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Ao lembrar de minha infância, tenho as festas do Ano como pequenas pedras preciosas.  Elas preencheram minha vida de esperança, alegria e reverência. Meus pais sempre cultivaram estas épocas festivas de forma mágica e especial. Com o nascimento dos meus sobrinhos e da minha filha, unido com o conhecimento que a Antroposofia trouxe sobre o significado destas festas, minha vida ficou mais rica. Quando chegavam estas épocas festivas a família se reunia em volta da mesa de jantar dos meus pais para vivenciar com artes, contos e música estes momentos de transformação e gratidão.

Os adultos preparavam as atividades com carinho e presença e as crianças vivenciavam tudo com entusiasmo, encantamento e muita diversão.

Este período dos festejos Cristãos tem um profundo sentido espiritual e são marcos importantes no ritmo do ano.

A alma fica satisfeita pela repetição anual das mesmas experiências, da chegada de uma época, com as mesmas canções, as mesmas histórias e a casa decorada.

Esta alegria vivenciada pela criança traz leveza para seu corpo, que futuramente se transforma em força para enfrentar e vencer as dificuldades que surgem na vida adulta.

E, para nós, é um momento de repensar modos, atitudes e crenças para nos tornarmos menos endurecidos. Uma oportunidade de um exercício interior de limpeza para reavivar nossa luz.

E como celebrar a Páscoa com os pequenos?

Primeiro, temos que lembrar que tudo começa com a gente, o adulto. É preciso que estejamos conectados com a essência da época, o sentido que ela traz para podermos vivenciá-la verdadeiramente. Porque as crianças aprendem e sentem o que trazemos como verdade. Criar um ambiente lúdico, para envolver as crianças no significado e valores deste momento, é sempre precioso.

A Páscoa é a época da transformação e renovação. E da comemoração da vida acima da morte. A morte aqui não é ausência de vida, mas sim o ponto de partida para o início de algo novo. Para evoluirmos temos que soltar o que já foi e nos projetar para o que está por vir. A nova etapa exige um abrir mão, uma morte de velhos pensamentos.

A estação que ela acontece é o outono, onde as folhas caem em sacrifício, para dar lugar aos frutos. As lagartas também surgem, se alimentando, para depois adormecerem no casulo, neste momento de pausa, e depois se transformar em borboletas

Os feitos do Cristo e os acontecimentos desde a Quaresma até o domingo de Páscoa, deixou um legado de superação da morte pela vida, e possibilitou que a Terra se transformasse em um centro de luz.

Para os pequenos podemos ir confeccionando os casulos das borboletas com feltro e lã ou até mesmo de massinha. Pendurá-los em um galho seco fazendo a árvore da Páscoa. Este momento é de encantamento, na espera de que cada casulo irá se transformar em uma colorida borboleta.

Os ovos soprados e decorados, durante a espera pelo domingo, representam a esperança de uma nova vida, símbolo da eternidade, da vida interior em estado germinal, que se rompe na plenitude.

Outro simbolo da Páscoa é o coelho. É um animal puro, que não bota os ovos, mas os traz.  Sempre está de forma oculta, nunca é visto. Representando a fé, a crença na existência do invisível, que se revela nos deliciosos ovos coloridos.

Na manhã da Páscoa, os casulos são substituídos pelas borboletas coloridas, que os adultos confeccionaram com papel de seda colorido. Elas magicamente aparecem no cenário do Domingo.

As pegados do coelho também irão compor esta decoração. As trilhas irão levar as crianças aos ovos escondidos. Esta busca representa o nosso caminho para o Cristo. Que pode ser leve, por isso cantem, celebrem e leiam um conto.

A árvore pode ficar preenchida com os ovos decorados e com as borboletas, até o domingo de Pentecostes, que representa o final desta Época da Páscoa. Com uma vela acesa e um verso pode-se encerrar esta festa, onde a luz se torna o fruto do agir do homem.

Contos:

Os três irmãos

Três irmãos, já crescidos, disputavam a mão de uma princesa. Mas o rei exigiu que só se casaria com ela aquele que lhe trouxesse um ramo de folhas de ouro que havia bem no meio da floresta. Partiram então os três, cada um por um caminho. O mais velho chegou a uma pedra onde estava um anãozinho. Este cumprimentou-o e lhe pediu de comer. O irmão mais velho, porém, respondeu que tinha um longo caminho pela frente e que não podia repartir com ele seu lanche. E foi seguindo até que encontrou uma borboleta muito grande e logo teve vontade de pegá-la. Mas a borboleta foi voando, voando e assim atraiu-o a uma clareira onde havia tantas borboletas esvoaçando que o deixaram completamente estonteado. Começou então a persegui-las com raiva, até que chegou a um lugar cheio de lindas folhagens. Contudo, ali habitavam lagartas negras, e só o que elas faziam era queimar quem se aproximasse. E o irmão mais velho perdeu-se na floresta. Com o irmão do meio, aconteceu a mesma coisa. O mais moço, porém, dividiu seu lanche com o anãozinho. Este, então, disse-lhe que encontraria uma linda borboleta, mas que não devia segui-la. “Logo acharás uma outra, e essa é que vai levá-lo a um lugar onde habitam muitas borboletas” – disse o anãozinho. “E é lá que vive um coelho encantado”. O irmão mais moço seguiu em tudo o conselho do anão. Não seguiu a primeira borboleta, mas sim a segunda, encontrou a terra das borboletas e o coelho encantado. Este levou-o a um jardim oculto onde, entre as folhagens raras, ele achou o ramo das folhas de ouro. O coelho deu-lhe o ramo de presente, e o moço levou-o ao rei e se casou com a princesa.

LAGARTA

Era uma vez uma lagarta muito gordinha e com mil perninhas
Encontrou uma folhinha e mastigou
E outra folhinha e devorou
Outra folhinha e triturou
Outra folhinha e rasgou
Outra folhinha e engoliu
E num lindo casulo a lagarta se enrolou
Veio a chuva, veio o vento,
Veio o sol e esquentou
E numa linda borboleta a lagarta se transformou

Músicas:

COELHINHO DA PÁSCOA

Coelhinho da Páscoa que trazes pra mim?
Um ovo, dois ovos, três ovos assim (2x),
Coelhinho da Páscoa que cor eles têm?
Azul, amarelo, vermelho também (2x),
Coelhinho da Páscoa com quem quer dançar?
Com esta(s) criança(s) que sabe(m) cantar (2x)
Coelhinho da Páscoa na toca está
Sonhando com a Páscoa que já vai chegar (2x)

DE OLHOS VERMELHOS

De olhos vermelhos, de pelo branquinho
Orelhas bem grandes, eu sou um coelhinho
Sou muito assustado, porém sou guloso
Por uma cenoura, já fico manhoso…
Eu pulo pra frente, eu pulo pra trás
Dou mil cambalhotas, sou forte demais
Comi uma cenoura, com casa e tudo
Tão grande ela era, fiquei barrigudo!

Verso:

Sobre o silêncio apagado de luzes,
a noite lentamente estende o escuro manto;
e lá debaixo dele, longe
dos olhos curiosos dos homens,
ela prepara o próximo e veemente
borbulhar de águas,
irromper de plantas,
despertar de almas.
E, quando ela se vai
com um leve gesto erguendo a sombra, desvendando a vida,
o dia, ainda trêmulo, escapa no horizonte,
e surge o sol,
surge o sol aclarante, inundante!
E na ordem do tempo se revela
a eterna luz
a eterna florescência!”

Ruth Salles

Neste domingo de Páscoa, vivenciamos o nascimento do germe do nosso Eu.

Dois mil anos atrás, com a ressurreição do Cristo, nosso Eu nasceu em forma de semente, com um potencial enorme de crescimento. Cabe a cada um de nós olhar para o planeta Terra e fecundá-lo com a melhor qualidade de nossas ideias e ações.

Nessa época, podemos criar força para possibilitar a vida, a morte e a ressurreição de hábitos, atitudes e modos de pensar. Para, assim, nos tornarmos pessoas melhores.

Renata Lis Bellinello

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